Com apenas 6% de sua capacidade plena de
armazenamento de água, o reservatório de Sobradinho vive o risco de
entrar em colapso e comprometer o abastecimento de água da região
Nordeste. Dia após dia, piora a situação deste que é a segunda maior
caixa d’água do País, localizada no Rio São Francisco, na Bahia. Os
dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) apontam que, mesmo
após uma série de medidas para guardar água, a queda no volume da
represa é diária e a situação tende a piorar nos próximos dias, por
conta da escassez das chuvas.
Nesta próxima semana, a expectativa é de
que chova apenas 26% da média histórica da região Nordeste para esta
época do ano. Com esse resultado, todos os reservatórios do Nordeste,
que hoje estão com 11% de capacidade, devem cair para cerca de 8%. O
caos de Sobradinho já serviu para produzir uma pilha infindável de
processos contra a Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf),
estatal do Grupo Eletrobras que opera uma sequência de oito
hidrelétricas erguidas no São Francisco. Mais de 300 ações judiciais
chegaram à empresa, apresentadas por pessoas e empresas que se sentiram
prejudicadas pela constante redução da vazão do reservatório.
José Carlos de Miranda Farias, presidente da Chesf, diz que “a situação é preocupante e merece toda a atenção“,
mas afirma que a redução do volume de água liberado pelo reservatório
de Sobradinho respeita um conjunto de decisões técnicas e determinações
feitas pelo Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS). Além disso,
segundo Miranda, a diminuição de vazão é o que ainda tem permitido o
acesso à água na região.
“Hoje estamos com uma vazão de 900
metros cúbicos por segundo. Se não existissem os reservatórios e a
possibilidade de controle hoje a vazão natural na região de Sobradinho
seria de 300 metros cúbicos“, afirma Miranda.”Temos explicado
para a população que se tratam de decisões necessárias para que não haja
colapso. Se mantivéssemos as vazões normais, não haveria água hoje.”
Duas semanas atrás, a Agência Nacional
de Águas (ANA) alterou a vazão da usina de Três Marias, que é o
reservatório de cabeceira do Rio São Francisco e que fica antes de
Sobradinho. Segundo maior da bacia, Três Marias teve seu volume de água
ampliado de 300 m3/s para 500 m3/s, para tentar garantir que Sobradinho
chegue em condições mínimas de operação em novembro, quando começa o
período chuvoso.
São grandes os riscos, porém, de que
Sobradinho zere seu reservatório e atinja o “volume morto”, como
aconteceu com o Sistema Cantareira, em São Paulo. Essa possibilidade,
inclusive, já chegou a ser alertada meses atrás pela Agência Nacional de
Águas (ANA).
A Bacia do São Francisco abastece 97% da
região Nordeste do País. Dentro dessa Bacia, Sobradinho e Três Marias
respondem por 90% do volume de água, daí a relevância desses dois
reservatórios para toda a região.
Em junho, Sobradinho teve sua vazão
reduzida para 900 m3/s, quando a quantidade mínima que o reservatório
tem autorização para operar, em condições normais, é de 1.300 m3/s.
Mesmo em 2001, ano do racionamento de energia, a operação do
reservatório chegou ao mínimo de 1.000 m3/s.
Trata-se da pior seca na região desde o
início da série histórica, há 84 anos. Na última quinta-feira, o diretor
do ONS, Hermes Chipp, afirmou que já está sendo analisada a
possibilidade de nova redução na vazão do rio, caindo para 800 m?/s.
A preocupação hoje não está relacionada a
risco de falta de energia, dado que há um conjunto de usinas térmicas
em operação na região, além de conexões com o sistema interligado
nacional, que garante o acesso à energia. O problema é garantir o
abastecimento de água para a população. Por meio de nota, a ANA informou
que continua monitorando a bacia do Rio São Francisco “com a atenção
que a situação requer, tendo em vista que o início da estação chuvosa
pode atrasar”.
Segundo a agência, está prevista para a
última semana de outubro uma reunião na sede da ANA com representantes
de todos os setores usuários da bacia e representantes do poder público
para avaliar a situação da Bacia. “Nesta reunião, poderão surgir
sugestões de medidas, que serão avaliadas antes de serem implementadas.”
(de agência)
(Fonte Blog Carlos Britto)
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